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TÚLIA SALDANHA

UMAHORA VI

2020/05/19 a 2021/01/17

 

A obra de Túlia Saldanha (Peredo, Macedo de Cavaleiros, 1930 - 1988) desenvolve-se intensamente entre os anos de 1967 e 1988, acompanhando e refletindo as grandes transformações de uma época que então se abria à experimentação e a profundas mudanças.
O contacto de Túlia Saldanha com o meio artístico acontece tardiamente, aos 37 anos, alguns anos depois de deixar Trás-os-Montes e ir viver para Coimbra. É no Círculo de Arte Plásticas de Coimbra (CAPC), instituição a que se manterá profundamente ligada até ao fim da vida, que inicia não só a sua formação, mas onde viria a exercer funções em áreas como a docência e até na direção daquele organismo, a partir do qual desenvolveria, de modo simultâneo à prática artística, as mais variadas ações culturais e projetos coletivos.
Realizada a partir da utilização e combinação de meios de expressão muito distintos, a sua obra radica grandemente numa dimensão conceptualista e experimental, em plena sintonia com as linguagens internacionais. Túlia Saldanha foi uma das primeiras artistas portuguesas a trabalhar disciplinas como a performance, a instalação ou a criação de ambientes; práticas que exploraria a par do desenho e da pintura.
A sua criação artística, que muitas vezes se confunde com a própria vida, alicerça-se em marcas autorais muito vincadas e inscreve-se, de certo modo, num carácter transformador e até libertador. O uso da cor preta e dos objetos queimados ou carbonizados, das caixas e das assemblages em malas de viagem, das pinturas de fundo negro ou as instalações-ambiente construídas em torno de refeições, são alguns dos traços dominantes da sua gramática artística.
Profundamente autobiográfica e reflexiva, no sentido em que é objeto de um constante questionamento de si mesma e até do sentido da vida, a sua obra traz, na origem, uma multiplicidade de evocações das memórias pessoais e das vivências sociais em Trás-os-Montes. No entanto, estes referentes em nenhum momento procuram assumir-se como reproduções ou simulacros saudosistas do passado. A sua obra oferece-lhes uma nova possibilidade de existirem, transformando-os numa outra imagética, sobre os quais ancora a criação de um universo inquieto e profundamente simbólico.
Mas o seu percurso artístico não se esgota no trabalho individual. Pelo contrário. Confunde-se e desdobra-se, em muitos momentos, numa prática coletiva ou colaborativa, construída na relação com o outro, seja no âmbito expositivo, como performativo. Exemplo disso são algumas das ações performativas, como 100 horas a desenhar e 33 horas a desenhar, que realiza, em Coimbra e mais tarde em Lisboa, com o escultor alemão Robert Schad.
Esta conexão com o outro está ainda patente em algumas das obras que apontam para a relação com importantes figuras como Ernesto de Sousa ou Wolf Vostell, que marcariam profundamente a obra e carreira e a ligariam aos novos preceitos e posicionamentos de vanguarda.
A presente exposição vem na sequência da antológica apresentada em 2014, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e no Museu Vostell Malpartida, em Espanha, em 2015, e reúne um número significativo de trabalhos, capazes de convocar não só as principais linhas de trabalho de Túlia Saldanha, mas também a pluralidade de temas e disciplinas de um percurso artístico construído, ao longo de duas décadas, entre uma prática individual e coletiva e que, em grande medida, está ainda por descobrir.

Curadoria: Jorge da Costa
Produção: Município de Bragança / Centro de Arte Contemporânea Graça Morais

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