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PAULA REGO

NA COLECÇÃO DE ARTE MANUEL DE BRITO

2009/06/30 a 2009/10/15

 

O desenho, mais do que a pintura, constitui a actividade dorsal no processo criativo de Paula Rego, artista que ocupa, pela singularidade da sua figuração pictórica, um lugar isolado no contexto artístico nacional e internacional.

Para as suas obras, onde uma pluralidade de personagens teatraliza e origina complexas narrativas, transpõe temas controversos e socialmente incómodos como a opressão e o castigo, a humilhação, a tirania e o medo, o aborto clandestino ou a vingança.
Paula Rego faz da sua pintura a própria voz, sendo constante a sua atenção pelos dramas humanos, principalmente aqueles que dizem respeito ao universo feminino, ainda que os seus actores possam vestir a pele de animais ou de entes antropomórficos.
Os seus dramas pictóricos, com cenas domésticas e familiares a representarem muitas vezes o real social e o político, através das quais inscreve a sua moral, encontra-os em livros de fábulas, romances, filmes e poemas, nas histórias que ouviu contar na infância ou tão-somente resgatados ao seu pródigo imaginário.
Susan and Bartolomeu, 1961, uma das obras representativas do extenso período dos recortes e colagens, abre esta vasta galeria de composições que, sem se afirmar pela sua dimensão cronológica, permite percepcionar os diferentes períodos e as variações estilísticas de cinco décadas da sua produção pictórica, desde as obras dos primeiros anos da década de 60 até 2008:
O Guarda da Vida do Macaco, 1981, é expressivo da súbita mudança que neste período se inicia na pintura de Paula Rego, ao deixar de recortar as suas tintagens para assumir a pintura directa e espontânea sobre o papel.
Carmen e Jenufa, 1983, da série Óperas, representam a resposta ao convite de Moira Kelly, uma galerista britânica que leva Paula Rego a participar na exposição de arte britânica em Nova York, Eight in the Eighties. O desafio leva-a então a realizar, a partir da gestualidade e do desenho quase caricatural, uma série de obras de grande dimensão, inspirando-se nas óperas favoritas do seu pai.
Lela playing with Gremlin, 1985, conduz-nos, pela dimensão e pela exuberância do colorido, ao encantamento dos contos de fadas e dos contos tradicionais, um universo muito presente em diversos trabalhos deste período.
Duas obras da série Sem Título, marco de uma significativa variação operada em meados dos anos 80, nomeadamente pela escolha de composições contidas e pela introdução das sombras, contam, numa clara personificação da frágil condição humana, a história simples de uma menina a cuidar de um cão enfermo.
O Jardim de Crivelli, 1990, de que resultaria um monumental painel para a nova ala da National Gallery de Londres, assinala o período que aí passou como primeira artista residente. Com as paredes decoradas por azulejos portugueses, todo painel é dominado por um complexo universo feminino, inspirado em lendas clássicas ou histórias bíblicas.
Iniciado em 1994, com a série Mulheres Cão, o desenho a pastel viria a constitui-se, desde aí, o meio privilegiado da sua produção pictórica, permitindo-lhe combinar desenho e pintura. As desajeitadas bailarinas de Lenda do Fogo, 1997, reminiscentes das Avestruzes Dançarinas que realizara dois anos antes, são representativas das potencialidades e dos extraordinários resultados que Paula Rego tem vindo a extrair do pastel, transformando-a numa das maiores artistas de figura do nosso tempo.
A emblemática série Sem Título, iniciada em 1997, onde a artista aborda a temática do aborto clandestino, cristaliza a ideia de que cada desenho, pintura ou gravura sua assume, muitas vezes, uma dimensão combativa e libertadora.
Inspirada pela ambiguidade de personagens que povoam algumas obras de literatura portuguesa como o Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, Paula Rego retoma, em 2001, o complexo universo literário. Figuras como Maria Moisés, protagonista da novela Camiliana com o mesmo nome ou Jane Eyre, heroína da novela de Charlotte Brontë, desencadearam séries de desenhos e litografias.
Também o seu trabalho de 2008 convoca, através da sua contundente gramática pictórica, verdades sociais como a Excisão ou a Fome; prova clara de que, não obstante as diversas variações técnicas e formais, aqui documentadas exclusivamente a partir da Colecção Manuel de Brito, estamos na presença de uma das obras pictóricas mais inquietantes e provocadoras do nosso tempo; voz maior de uma artista portuguesa que fala pela imagem a múltiplas vozes e se mantém fiel aos temas.

Comissários: Maria Arlete Alves da Silva e Jorge da Costa
Produção: Câmara Municipal de Bragança / Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Colaboração: Centro de Arte Manuel de Brito / Câmara Municipal de Oeiras

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