ARLINDO SILVA
NA MANHÃ SEGUINTE
A obra de Arlindo Silva (Figueira da Foz, 1974) faz-se no exercício contínuo da desconstrução de instantes e cenas banais apropriadas às mais diversas situações da sua vivência pessoal e afetiva, transferidas, num virtuoso exercício pictórico, da fotografia para a pintura.
Os protagonistas da sua iconografia, em muitos casos presenças assíduas, pertencem ao círculo de amigos e familiares, que fazem da sua obra uma pintura de cumplicidades, onde as personagens representam, sem filtros ou poses calculadas, os mesmos papéis que têm na vida real.
A narrativa apresenta-se fragmentada e neste mosaico de imagens, retratos de uma comunidade que celebra a amizade e a vida, os ambientes informais e boémios contrastam com outros de grande serenidade e intimidade, onde corpos, sem movimento, se abandonam ao prazer da água.
Cada tela cristaliza o instante de uma história, condensa-lhe o antes e o depois, mesmo quando a escolha do tema abrange apenas uma pequena parte da realidade ou, quando na ausência dos protagonistas, é o lugar que deixa adivinhar a memória dos gestos, das palavras, das risadas e dos afetos, como o pequeno jardim, agora vazio e silencioso, depois da noite festiva.
É da fotografia ocasional que Arlindo Silva retira os indicadores dos temas que pinta, mas a passagem de um plano para o outro é sintomática de um processo meticuloso e paciente, onde cada detalhe é trabalhado, corrigindo ou enfatizando até à sua revelação definitiva, até à criação da sua verdade.
Comissário: Jorge da Costa
Produção: Centro de Arte Contemporânea Graça Morais / Câmara Municipal de Bragança