ANDRÉ GOMES
A INCANDESCÊNCIA DAS SOMBRAS
A produção artística de André Gomes (Lisboa, 1951) tem-se confinado à fotografia. Porém, o seu imaginário não pode ser restrito a um modo específico de expressão visual.
Com efeito, é explícita na sua obra a proliferação de inúmeras referências com origem na história de arte, mas também (ou sobretudo) na literatura e na filosofia, no teatro e no cinema, enquanto territórios de mediações de imagens, narrativas e mitologias.
Ao mesmo tempo, sabendo-se da sua atividade profissional enquanto actor, é natural que se identifique ainda na sua obra uma pronunciada teatralidade.
À semelhança de outros trabalhos anteriores, o artista tem olhado e experienciado intensamente os espaços, os objectos e as imagens que o têm acompanhado no interior da sua casa. A casa é um lugar propício ao pensamento, à rememoração e ao devaneio, que nos faz acordar para a própria transitoriedade da vida, o curso do tempo, das vivências e das emoções.
Deste modo, o trabalho de André Gomes procura esse ensejo cada vez mais pertinente de desdobrar o mais possível a fenomenologia da imagem, a sua heurística, isto é, de expandir tudo aquilo que faz dela acontecimento (um processo, um trabalho, um corpo a corpo) perante o real.
A par do trabalho mais recente, Vozes Interiores, realizado em 2015, a presente exposição reúne ainda um conjunto de séries como Macha, Miroirs ou Per Umbras, produzidas entre 2007 e 2010. Ao percorrermos as suas várias séries, é fácil perceber que o que fundamentalmente motiva André Gomes para a fotografia é a possibilidade de um certo alcance experiencial e poético. E esta forma de praticar a imagem conecta o trabalho de André Gomes com tendências recentes no domínio das práticas artísticas da fotografia, que usa, de algum modo, como forma de entender o mundo.
Comissários: Jorge da Costa e Sérgio Mah
Produção: Município de Bragança / Centro de Arte Contemporânea Graça Morais