Xosé Luís Otero
Distopia
Curadoria: Jorge da Costa
A paisagem, natural, profundamente urbana ou mesmo utópica, é um conceito permanentemente interpelado pela prática artística de Xosé Luís Otero (Nocelo da Pena, Ourense, Galiza, Espanha, 1966). Mas da paisagem interessa-lhe apenas o fragmento, como se nele capturasse uma determinada fração de espaço e de tempo.
A sua obra constrói-se, por isso, de imagens parcelares, destroços de vivências que funcionam como lugares de esquecimento, desabitados, silenciosos, que encerram a tensão do que aí, em algum momento, parece ter acontecido.
Em essência, entram em diálogo com as memórias que transportam, questionam-se sobre presenças e ausências, contêm mundos em si mesmos; preconizam um regresso à emoção, encerram as impressões de marcadas lembranças da infância.
Profundamente matérica, a produção artística de Luís Otero tem estado ancorada a um contínuo desafio à experimentação e à reutilização de uma grande diversidade de materiais, maioritariamente recolhidos na natureza ou de elementos arquitetónicos, como velhas portas e janelas de madeira.
As suas criações parecem materializar-se em múltiplas formas, muitas vezes como arquétipos de casas, colmeias ou ninhos, mas também de edifícios em ruína, cidades desabitadas ou extensos areais cobertos de algas, ao mesmo tempo que carregam referências muito concretas, apropriadas aos bosques, às atmosferas ou às paisagens marítimas da Galiza.
O desvio ao suporte do tradicional quadro pintado levam-no a amplificar a dimensão bidimensional, a conferir-lhe uma nova espessura e a combinar domínios próprios da pintura com o contexto escultórico ou na acentuada tendência para a instalação e para as montagens cenográficas.
A presente exposição vem na sequência da recentemente apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Vigo e propõe um olhar sobre a sua produção mais recente, concretamente sobre os trabalhos inéditos realizados entre 2019 e 2021.
Produção: Município de Bragança | Centro de Arte Contemporânea Graça Morais