GERARDO BURMESTER
AS CORES NÃO DIZEM NADA
Gerardo Burmester começa a apresentar o seu trabalho na segunda metade da década de 70, desenvolvendo várias acções performativas e configurando uma obra pictórica que associa referências neo-românticas à crítica irónica da condição da pintura e dos seus temas na situação portuguesa e internacional do momento. Em finais da década de 80, a obra de Burmester passa a utilizar o objecto e a instalação espacial como propostas de um teatro dos lugares por ela reinventados, aproximando e distanciando o espectador em jogos de sedução visual tão atractivos quanto frios no perfeccionismo intocável dos materiais utilizados: madeira folheada, alumínio polido, feltro industrial.
No trabalho especificamente realizado para o Centro de Arte Contemporânea de Bragança, o artista apresenta um conjunto de elementos coloridos de alumínio polido cujos volumes pontuam o lugar num itinerário que tanto reflecte a imagem do espectador como sublinha a exterioridade deste em relação ao alinhamento daqueles no espaço. Um “quadro” feito de feltro e de chapas de acrílico de cores fluorescentes objectualiza a condição da pintura, convidando a descobrir a grande galeria onde o espectador é convidado a entrar dentro de um outro “quadro”: ali, numerosos elementos de alumínio e de acrílico criam ritmos de transparência e de opacidade no espaço, confrontando cores, linhas e geometrias. A condição minimalista e abstracta desta “paisagem” antinaturalista confronta-se com o preenchimento do chão por lascas de acrílico resultantes do corte dos elementos fixados na parede. Uma diferença de temperatura diferencia a experiência “fria” da observação em relação à experência”quente” da entrada num espaço-quadro, onde o único elemento de variação será precisamente o movimento do espectador e os vestígios dos seus percursos no chão. “As cores não dizem nada”, o título deste projecto de Gerardo Burmester, desmente a expectativa de quem na arte procura outra coisa que não ela mesma, expressão de uma das condições mais livres e singulares da condição humana.
Exposição programada pela Fundação de Serralves
Comissário: João Fernandes
Produção: Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Câmara Municipal de Bragança