RITOS E MITOS
Rostos e gestos, tramas narrativas de sacralidade e morte, cenas de trabalho e rituais, acusam as marcas de uma obra que, não obstante a variação de estratégias formais e criativas que mobiliza, não abdica do real como referência, que aqui é feito de terra e de mistérios ancestrais e tem profunda ligação à memória e aos afetos.
Transfigurado ou metamorfoseado através da distorção e da sobreposição de linhas e formas, capazes de desencadear distintos níveis de leitura, cada obra é metáfora pictórica não só do encontro com o Trás-os-Montes de Graça Morais, mas da interpretação e da inquietante reflexão que, a partir deste território antigo em iminente desagregação, a artista faz do mundo.
Em permanente reinvenção e revisitação de temas e abordagens, a obra de Graça Morais tem vindo a desenvolver-se a partir de uma linguagem muito própria, assente em múltiplas derivações e em sucessivas deambulações criativas, que se sobrepõem, combinam ou interrompem e fazem dela uma obra à parte, inconfundível, no contexto da arte contemporânea portuguesa.
A sua prática pictórica não está no registo do pitoresco ou na captação sob ponto de vista etnográfico para memória futura, está antes na exploração de um imaginário e no modo como explana, com grande sinceridade pictórica, o que observa e lhe subtrai a redutora referência naturalista.
A escala cronológica da exposição que agora se apresenta é ampla, reunindo uma seleção de séries e trabalhos emblemáticos e alguns inéditos, permitindo, de algum modo, o reencontro com uma grande variação de temas e estilísticas tratados por Graça Morais nos últimos quarenta anos.
Comissário: Jorge da Costa
Produção: Município de Bragança | Centro de Arte Contemporânea Graça Morais