MAPAS E O ESPÍRITO DA OLIVEIRA
Os trabalhos que em 1984 constituíam a série Mapas e o Espírito da Oliveira, um dos anos mais marcantes e prolíficos da carreira artística de Graça Morais, subsequentes à sua participação na XVII Bienal Internacional de Arte de São Paulo, no Brasil, associam-se agora, quase trinta anos depois, a um outro conjunto de trabalhos inéditos, produzidos especificamente para esta exposição. Mapas e o Espírito da Oliveira é, assim, o título retomado e evocativo das duas exposições que Graça Morais apresentara, em 1984, no Museu de Arte Moderna de S. Paulo e, em 1985, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
O gosto e até a necessidade de trabalhar o grande formato, que já havia anunciado em 1982, com a série Os Cães, desencadeariam, nesse período, uma nova forma de expressão, nomeadamente por representarem uma renovada liberdade do gesto e do traço, processo de trabalho que não mais vai abandonar. A lona, sem qualquer tratamento prévio e colocada, sem chassis, diretamente na parede, foi o principal suporte dessa série de trabalhos onde, numa quase ausência da pintura, o desenho a carvão e pastel é dominante. As linhas do desenho deixam uma forte impressão de independência em relação ao suporte, como se tivessem sido abruptamente interrompidas, acusando uma continuidade para além dos limites da tela, desafiando o espectador a continuá-las ou a conclui-las.
Como o traço, a composição é livre. Justapõem-se planos, esbatem-se lógicas, ao ponto de, em cada obra, se misturarem universos e espaços temporais muito distintos. Frederico Morais, um dos maiores críticos de arte do Brasil, designou-a por “narrativa confabulada” justificando, pela complexidade que cada obra sobre si mesma encerra, a dificuldade de compreensão numa leitura imediata. Figuras de mulheres e de animais, objetos e situações do quotidiano rural conjugam-se com cenas resgatadas de uma iconografia antiga e erudita, povoadas de entes mitológicos ou fantásticos.
Comissário: Jorge da Costa
Produção: Câmara Municipal de Bragança / Centro de Arte Contemporânea Graça Morais