RETRATOS E AUTO-RETRATOS
«Retratos e auto-retratos é o tema para a exposição de Graça Morais. ( … ) A artista desde sempre se elegeu como modelo porque grande parte da sua obra é referida a uma mundivindência pessoal em que a personagem da artista se confunde progressivamente com a imagem da mãe da artista e depois com o geral que são as mulheres de Trás-os-Montes. Desde há cerca de trinta anos Graça Morais vai registando essas imagens, não apenas num intuito quase antropológico de preservar e apresentar uma tradição, mas sim em permanente evocação, em que alguma nostalgia perpassa, fixando momentos afectivamente significantes do passado e da infância da pintora.»
«Também a história pessoal de Graça Morais quase pode fixar-se pelos inúmeros auto-retratos que a artista tem produzido. Mas o que se torna original na obra desta artista é a progressiva identificação com a imagem de sua mãe. Pode perguntar-se até que ponto as questões abordadas no retrato materno são auscultação de um porvir mais ou menos imediato.»
«Estranhas criaturas povoam a pintura de Graça Morais, mas são sempre figuras que dramaticamente se impõem num espaço plástico onde é difícil construir narrativas verbalizáveis, ou conotar com alguma espécie de naturalismo estas personagens que dir-se-ia pertencerem a um mundo onírico muito particular ( … ) Dando ao mundo um séquito de personagens que inventa, e que a inventam a ela, Graça Morais, como se estivesse a reabilitar um universo onde os loucos, os desprotegidos, os inocentes e as figuras de ficção naturalmente convivessem, mas olhando frontalmente para a vida que lhes foi conferida, reclamando o seu direito à existência plena, existência que prodigamente vai saindo das mãos da pintora.»
* in catálogo ‘Graça Morais – Retratos e Auto-Retratos’, 2005 | extractos retirados do texto de Sílvia Chicó ‘A Máscara, O Retrato e o Auto-Retrato na Pintura de Graça Morais’