A PROCISSÃO
DESENHO, PINTURA E FOTOGRAFIA - 1999/2000
A religiosidade foi sempre um tema muito presente na obra de Graça Morais. Depois da “Idade do Ouro”, uma série de 1991 constituída por um conjunto de retratos de meninas figurantes, projectados a partir de fortíssimos tons de azul e laranja, Graça Morais retoma a temática na série “Procissão”, ponto de partida para a exposição que agora se apresenta.
Já por ela concertado sob distintas formas e em abordagens bem menos convencionais ou até subversivas, o referente religioso é agora materializado através do desenho para, numa grande aproximação aos códigos da representação realista, se acercar da devoção popular e das suas festividades. Na verdade, como refere Silvia Chicó, também aqui “a igreja e os seus rituais estão presentes, mas não para serem dessacralizados como na série “O Sagrado e o Profano”, marcados que estiveram por um sobrepujado onirismo ou tão-somente por incursões surrealistas.
Orientado para uma quase essencialização de contornos e numa notória economia de meios, quando contrastando com trabalhos onde o recurso à sobreposição de elementos e até à sobreacomulação de tintagens de anteriores soluções compositivas, as personagens de Graça Morais são agora traçadas com imediatismo.
Retratos de meninas e mulheres inscrevem-se a partir de linhas informais, desabrigadas de qualquer referencial ao espaço perspéctico, que quase sempre rareia na sua obra, para reinterpretar, a partir das suas memórias de infância, a identidade religiosa de um povo e a genuína solenidade de que se reveste esta manifestação colectiva.
Centrada em trabalhos de 1999 e 2000, a presente exposição leva-nos ainda, dentro da temática, ao universo privado dos rituais associados ao culto popular, ao integrar nas suas representações as imagens de cera dos ex-votos usadas como pagamento de promessas.
Comissário: Jorge da Costa
Produção: Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Câmara Municipal de Bragança