SAGRADO E PROFANO
PINTURA E DESENHO 1986/87
Do encontro de Graça Morais com os desenhos preparatórios de Picasso para a obra Guernica, metáfora maior dos dramas da guerra civil espanhola, cruzados com a visão pessoalizada sobre a cosmologia rural transmontana, onde a mulher-vítima é protagonista, haveriam de resultar, em 1982, grande parte dos seus trabalhos. Obras como Maria e Delmina ou a série de desenhos Mulher e Guernica denunciariam, pelas objectivas citações picassianas, a importância desse encontro.
No entanto, esta abordagem plástica viria a alcançar, a partir do biénio 1986/87, período sobre o qual centramos a presente exposição, outros contornos. Encenações pejadas de grande carga erótica e simultaneamente dramática, tema que constituirá um recurso muito frequente na sua obra, evidenciam a experimentação de outras possibilidades formais e conceptuais, ao ponto de conduzirem a sua pintura a uma dimensão demiúrgica e surrealizante.
O confronto do profano com o sagrado torna-se assim, pela subversão, a matéria principal onde a artista perspectiva, pelo desenho e pela pintura, distintas extensões da espiritualidade. Libertando-se e desafiando convenções sociais e até pessoais, Graça Morais faz emergir do seu trabalho uma clara tentativa de dessacralização da religiosidade e de refutação da concepção de erotismo associada à ideia de pecado.
Títulos como Sagrado e Profano, Erotismo e Morte, Sedução e Paixão, conduzem-nos, sem dogmas ou eufemismos, a uma ousada estilística que presentifica a miscigenação do humano e do divino, do carnal e do espiritual, do terreno e do etéreo, em cujas composições se multiplicam figuras andróginas, centauros, ou corpos auráticos que dualizam prazer e alienação.
Graça Morais apropria-se ainda de enredos bíblicos, histórias protagonizadas por figuras femininas como Salomé ou Judith, cujos temas preenchem semanticamente a dominação sobre o masculino. No entanto e para acentuar esta ambivalência de leituras, a apropriação estende-se ainda, em algumas obras, ao universo da mitologia clássica.
Comissário: Jorge da Costa
Produção: Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Câmara Municipal de Bragança
Colaboração: Fundação Paço d'Arcos e Museu do Abade de Baçal